O Brasil é composto por mais de 212 milhões de indivíduos com culturas, identidades e origens únicas. Com o passar dos anos, a tendência é que a população se torne cada vez mais diversa. Os jovens de hoje, conhecidos como Geração Z, por estarem conectados com pessoas do mundo todo, já valorizam mais a diversidade em todas as formas e buscam entender todos os pontos de vista sobre qualquer assunto. Sob essa perspectiva, ter conversas reais sobre como aplicar inclusão, antirracismo, igualdade e equidade na educação é algo cada vez mais presente e necessário na gestão escolar.
Algumas escolas têm tentado criar programas que atendam todos os estudantes. Outras têm sido lentas para responder às mudanças e ainda tentam encaixar os jovens em modelos educacionais antiquados e limitados, quando, na verdade, o sistema educacional tem uma grande necessidade de contar com mais profissionais com formações e paixão para projetar programas de mudança e equidade na educação. O ponto de partida é adotar uma abordagem que entenda as necessidades dos estudantes antes de tratar de currículo ou de padrões.
Afinal, o que é equidade na educação?
Embora sejam confundidos como se fossem sinônimos, “equidade” e “igualdade” não são a mesma coisa, sendo que o segundo conceito se apresenta como uma meta mais complexa. Em resumo, igualdade é dar a todos os mesmos recursos. Equidade significa dar a cada estudante acesso aos recursos de que precisa para aprender e prosperar, resolvendo lacunas de realização e oportunidade, assim como combater preconceitos. Equidade na educação é reconhecer que existem desequilíbrios de poder nos contextos históricos e modernos de raça, habilidade, gênero, orientação sexual, histórico financeiro, educação etc. e levar em conta essas diferenças a fim de melhorar o sistema e a vida diária do máximo número possível de discentes e educadores.
Isso significa levar em conta e apoiar melhor as diferenças individuais, porque alguns alunos precisam de atenção extra ou permissões para superar contratempos em sua vida pessoal. Regras como punição por atraso, ausência ou tempo individual igual com o professor podem ser injustas quando se levam em consideração as razões de cada um quanto à necessidade de apoio. Além disso, práticas como códigos de vestimenta (incluindo penteados) que apresentam um padrão duplo com base em raça, gênero ou tipo de corpo podem, por definição, ser discriminatórias.
Deixe todos se sentirem à vontade para compartilhar
É importante estabelecer a equidade na educação como meta anual consistente e contratar professores de diversas origens, que sejam capazes de se relacionar e trabalhar com todos os tipos de estudantes. Quando esse conceito faz parte da missão e do plano estratégico de uma escola, fica mais fácil fazer um brainstorm, compartilhar e desvendar suas muitas camadas. Os melhores líderes valorizam a emoção, promovem discussões e tratam todos com respeito.
Embora isso pareça uma cortesia óbvia, a gestão escolar de uma escola ideal sabe que realmente deve ouvir as histórias de outras pessoas e trabalhar como aliados para elevar a todos. Equidade envolve dar voz a grupos ou indivíduos marginalizados, assim como garantir que discussões, divergências e até mesmo raiva sejam expressas. Enquanto uma pessoa pode se sentir um pouco desconfortável ao confrontar seu privilégio, outra se sentiu excluída, não ouvida, insegura, julgada e/ou objetificada de diferentes maneiras durante anos.
Aborde as diferenças e responda perguntas
Ao promover a equidade na educação, os líderes educacionais devem saber como enfrentar equívocos comuns e básicos. Por exemplo, alguém pode argumentar que o conceito causa divisão. Você pode responder que isso cria um ambiente compreensivo e inclusivo, em que as pessoas são encorajadas a falar sobre experiências únicas, com as quais outras podem aprender a ter paciência, compreensão e compaixão. A discussão honesta, especialmente para estudantes mais velhos, possibilita que se quebrem silêncios antigos e sistemas de opressão que podem ser esquecidos ou ignorados por aqueles que não experimentaram suas repercussões. Se surgirem desacordos, estes devem ser tratados como uma ferramenta de aprendizagem.
Em tempos de crise, como a ocasionada pelo novo coronavírus (COVID-19), uma abordagem holística, que atenda às necessidades sociais e emocionais de aprendizagem dos estudantes, é crucial. Para promovê-la, é importante levar em consideração as origens, as necessidades e os desafios de todas as crianças e jovens. A ideia é criar uma comunidade em que todos se sintam livres para trazer histórias diferenciadas e criar soluções. Algumas iniciativas necessárias são:
Reconheça que a aprendizagem profissional é essencial
É imperativo que os líderes forneçam aos funcionários acesso a treinamento que se concentre na equidade e em ajudar a escola a concretizar seu pleno potencial de se tornar um ambiente totalmente seguro, no qual o crescimento pessoal e individual é valorizado, enquanto a injustiça, a discriminação, a desconfiança e a violência são eliminados.
Garanta tempo para planejamento e colaboração
Só assim os professores podem desenvolver um currículo coerente, de alta qualidade e aprender uns com os outros. A gestão escolar, em uma escola ideal, precisa saber não somente como planejar, mas também redesenhar um processo de mudança. Além disso, precisa saber como organizar o tempo dos funcionários para reduzir o tamanho das turmas, criar equipes, incorporar sistemas de aconselhamento e distribuir tempo para colaboração e oportunidades de aprendizagem profissional.
Revise as práticas de contratação
Essa é uma medida importante na promoção da equidade na educação e em prol de uma comunidade mais diversa. Observe como você seleciona currículos. Muitas vezes, olhamos apenas para onde alguém fez faculdade, e não para o indivíduo em si. Contrate talentos onde quer que os encontre.
Desapegue dos rankings e dados de desempenho
Quando olhamos unicamente para os dados da escola como uma média, eles podem mostrar que todos estão no mesmo nível. No entanto, ao olhar mais profundamente para cada discente, identificam-se diversas trajetórias. Não podemos olhar para a imagem completa dos dados sem olhar para as partes. Cada estudante conta, não importa qual seja a posição da escola nos rankings.
Revise o currículo para promover a equidade na educação
Analise o currículo para garantir que todos se vejam refletidos nele. Atualizá-lo para espelhar a população atual favorecerá que os estudantes se sintam conectados a ele, aumentando as oportunidades de aprendizagem, a retenção e o envolvimento de conteúdos. Crie um plano estratégico, bem como um plano de ação de equidade na educação, e certifique-se de que ele seja um item contínuo da agenda, por meio de artigos, dados e práticas recomendadas.
Envolva todos na conversa
É importante garantir um nível eficaz de comunicação entre todos os membros da instituição para compartilhar as melhores ações. Frequentemente, revise e discuta os estatutos para ter certeza de que práticas equitativas estejam realizadas.
Conheça sua comunidade
É preciso conhecer os jovens e de onde eles vêm, ou seja, não apenas a questão geográfica, como também quais são suas perspectivas pessoais. Para fazer isso, a gestão escolar precisa sair de sua zona de conforto e entrar em um lugar que pode ser incômodo, para aceitar o seu corpo discente independentemente de como seus membros comparecem à escola. Ter essas conversas levará todos a se sentirem confortáveis com as infinitas possibilidades de quem são e onde estão em sua jornada educacional.
Promover a equidade na educação não significa apenas representar as vozes das minorias, mas também manter a porta aberta para que adultos e jovens se defendam e relatem suas próprias experiências. É mergulhar na autorreflexão e nas questões sociais diferenciadas para oferecer soluções que superem as bem-intencionadas, porém que sejam reais e efetivas.